SACERDÓCIO UNIVERSAL DOS SANTOS: O Serviço de Todos os Crentes ao Senhor da Igreja
Nesta série temos apresentado alguns temas que foram fundamentais para o
sucesso da Reforma Protestante no séc. XVI, que este comemora 500 anos. Estes
temas estão relacionados à soteriologia (doutrina da salvação), isto é, as
doutrinas reformadas não se restringem, ou se resumem apenas aos “Solas”.
Estas doutrinas bíblicas são parte do corpo doutrinário reformado, e
representam o retorno às Sagradas Escrituras, o resgate do ensino apostólico e
a libertação da Igreja Cristã das heresias e desvios impostos pela Igreja
Romana. Estes alicerces soteriológicos são: Sola Scriptura (Somente
a Escritura), Solus Christus (Somente por Cristo), Sola
Gratia (Somente a Graça), Sola Fide (Somente a
Fé), Soli Deo Gloria (Somente a Deus toda glória), incluindo
também, o Sacerdócio Universal dos Crentes.
Neste post, vamos tratar sobre um destes temas, porém, o menos comentado atualmente, o Sacerdócio Universal dos Santos. Traremos uma definição da doutrina, e como está se encontra nas Escrituras e na, introdutoriamente, na História da Igreja, apresentando, ao final, implicações para nossa reflexão.
Iniciamos com uma preocupação. Percebemos que o pastor possui uma centralidade
e preeminência na igreja. Isto não pode ser perigoso? A vida cristã precisa da
orientação pastoral, sem dúvida. Mas, se restringe à pessoa do pastor, do
líder, do bispo, do apóstolo? Onde está a participação do leigo na igreja
cristã? Será que não está visível a ausência da figura do crente na igreja, em
seu aspecto individual e coletivo? Deixe-me explicar melhor. Qual a diferença
da oração impetrada pelo crente leigo e pelo pastor (ou “apóstolo”)? Será que a
intercessão do líder é mais “espiritual” do que a intercessão feita pelo
simples? Qual o papel e importância do leigo? A doutrina do Sacerdócio Universal
dos Santos (ou dos Crentes), como uma doutrina fundamental difundida pelos
reformadores, vem a responder a estas questões, dando ao líder seu verdadeiro e
essencial papel, sem anular a importante participação leiga no seio da igreja.
Comecemos por definir a doutrina?
Sacerdote, nas Escrituras, é aquele escolhido por Deus para representar o povo diante o Senhor. Temos, por exemplo, o Sacerdócio levítico, no Antigo Testamento, escolhido por Deus, da Tribo de Levi, para cuidar do culto, dos sacrifícios, do templo, das coisas sacrificadas, etc. No Novo Testamento, nos é revelado Jesus Cristo como O grande sumo sacerdote, maior e melhor de todos. (Veja: Hb 2:17; 3:1; 4:14s; 5:10; 6:20; 7:24-27; 9:12,26; 10:12,21; Jo 1:29). O sacerdócio de Cristo tem um caráter definitivo, e seu autossacrifício na cruz é totalmente único, perfeito e eficaz. Ele é o único mediador entre Deus e o seu santo povo. (1Tm 2:5). Todos que estão diante de Deus, estão mediante o sacerdócio de Cristo. A partir do sacrifício de Cristo, o Novo Testamento, também nos apresenta um sacerdócio compartilhado com todos os crentes. (Veja: 1Pe 2:5-9; Ap 1:5-6; 5:9-10; Ex 19:5-6; Is 61:6). Todos os crentes partilham do sacerdócio de Cristo, base do sacerdócio cristão. A igreja como corpo de Cristo exerce este sacerdócio, para servir uns aos outros. A adoração, serviço e testemunho são aspectos contemplados pelo sacerdócio de todos os crentes. Importante ressaltar que o Novo Testamento não menciona o ofício sacerdotal levítico na Igreja. O sacerdócio não é mais exclusivo de uma parte do povo de Deus, mas partilhado a todos, em Cristo Jesus. Há, sim, o ofício específico do ministério da Palavra e da diaconia. Temos aqui a diferença entre o serviço cristão e a posição (ofício).
O Sacerdócio Universal dos crentes está baseado também no conceito
bíblico de liberdade cristã. A salvação se dá pela graça,
libertando o salvo do domínio do pecado, e possibilitando uma vida livre para
Cristo. Assim, todo crente é livre para estar diante de Deus, mediante o Senhor
Jesus. (Veja: Hb 10:19-22).
Infelizmente, ao longo da história, este conceito de sacerdócio universal foi deturpado dentro da Igreja. Na Idade Média, surge o clero, uma casta consagrada e privilegiada, distinta dos leigos. Há, nitidamente, uma diferenciação entre o Clero versus o laicato. Isto gerou vários problemas, por exemplo, o interdito pelo clero, a autonomia do clero em reger a Igreja até mesmo contra a revelação bíblica, dando preeminência à tradição e às bulas papais. A luta dos reformadores foi exatamente contra a dominação do clero (bispos, arcebispos, cardeais, papa). O clero dilareçou a Igreja na Idade Média, a fez sangrar...
Infelizmente, ao longo da história, este conceito de sacerdócio universal foi deturpado dentro da Igreja. Na Idade Média, surge o clero, uma casta consagrada e privilegiada, distinta dos leigos. Há, nitidamente, uma diferenciação entre o Clero versus o laicato. Isto gerou vários problemas, por exemplo, o interdito pelo clero, a autonomia do clero em reger a Igreja até mesmo contra a revelação bíblica, dando preeminência à tradição e às bulas papais. A luta dos reformadores foi exatamente contra a dominação do clero (bispos, arcebispos, cardeais, papa). O clero dilareçou a Igreja na Idade Média, a fez sangrar...
E qual a herança deste desvio da doutrina do sacerdócio universal de
todos os santos, hoje, nas igrejas cristãs? Por exemplo, o sofrível retorno aos
elementos judaizantes na Igreja, como: sacerdócio único do pastor (dos
apóstolos), altar, levitas, chofar, candelabro, repetição do sacrifício de
Cristo, atos proféticos, enfim, a lista é longa... E mais, a centralidade na
pessoa e ofício do pastoral (apóstolos hoje?), com seus perigosos excessos na
autoridade pastoral, não dando oportunidades para o crescimento do corpo.
(Veja: 1Pe 5:13). O isolamento da fé é algo extremamente perigoso e pernicioso.
Ninguém pode ser crente sozinho, a Igreja é composta pela comunidade
dos santos. A oração não é um dom específico a alguns, a
Igreja é uma comunidade de intercessores.
Quais implicações esta doutrina nos traz?
Quais implicações esta doutrina nos traz?
a) Cada cristão é um sacerdote, juntamente na esfera do Corpo de Cristo. Somos todos sacerdotes (Veja: 1Pe 2:9). Todos nós somos dignos de comparecer diante de Deus e de rogar uns pelos outros, em Cristo. Todos temos a liberdade e livre acesso a Deus na mediação de Cristo. Todos são pastores e diáconos, uns dos outros. Perceba, mais uma vez, a diferença entre o ofício específico e geral: - Todos somos ministros: na oração, intercessão e ministração. Todo cristão é “ministro” e tem o direito de pregar (se assim for chamado – debaixo da autoridade pastoral); - Todos somos diáconos: com serviço e solidariedade, podendo e devendo ajudar quem está mais próximo.
b) O sacerdócio é um privilégio e responsabilidade. Um grande privilégio que temos como filhos de Deus. A Igreja é a boca de Deus e o sacerdócio cristão no mundo. A Igreja tem um aspecto profético, ao levar a mensagem do evangelho a todos; E como sacerdote de Deus, a Igreja de Deus intercede e serve ao necessitado. Todo o crente tem privilégios! Deus ouve a oração de todos! Deus aceita o culto de todos! O que depende não quem ora ou cultua, mas a mediação de Cristo e a sinceridade e obediência aos preceitos da Palavra de Deus. A responsabilidade da Igreja cristã, como sacerdote, se manifesta ao representar, na intercessão, o outro na presença do Pai, em Cristo.
c) A Igreja é um corpo, uma comunidade. A Igreja se caracteriza pela comunhão dos santos. Num sentido comunitário, servimos uns aos outros. Ninguém é igreja sozinho. Somos a igreja quando estamos conectados na Igreja Cristã, no Corpo de Cristo.
d) Todos são leigos (Laos, do grego). A Igreja é composta pelo povo de Deus com diferentes dons e ministérios. Todos são iguais, com privilégios e responsabilidades iguais diante de Deus, como ministérios e funções diferentes. Porém, todos são iguais! Não há mais uma casta mais espiritual e consagrada, privilegiada, do que os demais.
e) Desta maneira, todos são importantes na Igreja de Cristo. Todos cooperam para instrução e incentivo ao ministério pessoal e comunitário. A Igreja deve crescer, na medida em que todos cooperam como um corpo. (Veja: Ef 4:15-16).
Enfim, abrace o seu sacerdócio, reconheça o seu privilégio, concentre-se em sua responsabilidade, esforce-se em cumprir seu sacerdócio, entenda que você participa do crescimento da sua Igreja, ame o outro, seja desprendido, paciente, altruísta e humilde, seja um intercessor, zele pelo testemunho, coopere para a pureza doutrinária, centralidade de Cristo no culto, na assistência aos irmãos necessitados, seja um pregador da Palavra, com a sua vida e seus lábios. Valorize o irmão, ele também é importante no seio da Igreja. Aceite-o, apesar dos defeitos, pois ele precisará ser paciente com os seus. Assim, a Igreja crescerá para a glória do seu Senhor, Cristo, o Cabeça da Igreja, o nosso grande e Sumo Sacerdote! A Ele, e só a Ele, toda a glória!
Rev. Marlon de Oliveira
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