Série: Teologia e Vida (Parte 3)

Justo és, Senhor: A justiça Santa de Deus e o arrependimento!

“Justo és, Senhor”: A justiça santa de Deus e o arrependimento!


“A teologia mata o nosso amor, a nossa vontade de buscar a Deus!” Esta frase foi me proferida por alguém um tempo atrás. Na verdade, esta pessoa não entendeu nada do que é teologia, e a sua necessária conexão com a piedade. Teologia e vida, teologia e piedade, não são autoexcludentes. O propósito desta série é demonstrar isso, aplicando alguns pontos fundamentais da teologia cristã (reformada) à vida diária do crente. As verdades referentes a Deus e à sua vontade devem ser o motor que move todo nosso coração e mente a Ele mesmo, ao próximo e a uma vida plena de verdade e amor.

Hoje, trataremos preliminarmente de um dos pontos complicados da teologia. Falaremos da justiça santa de Deus. Afirma-se que Deus é amor. Isso é bíblico. O problema começa a existir quando se prega que o amor de Deus exclui ou anula toda a sua justiça. Isso já não é bíblico. Os atributos de Deus são perfeitos, todos eles revelam a completude do Ser divino. Deus é o que é! Ele se revela plenamente amoroso e plenamente santo e justo. Vamos pensar nisso um pouco.

a) Primeiramente, tragamos à mente a verdade bíblica que Deus é justo! As Escrituras afirmam: “Justo és, Senhor, e retas são as tuas ordenanças. Ordenaste os teus testemunhos com justiça; dignos são de inteira confiança!” (Sl 119:137 NVI). E, “Então ouvi o anjo que tem autoridade sobre as águas dizer: ‘Tu és justo, tu, o Santo, que és e que eras, porque julgaste estas coisas.’” (Ap 16:5 NVI). (Veja também: Ed 9:15; Ne 9:8; 145:17; Jr 12:1; Lm 1:18; Dn 9:14; Jo 17:25; 1Jo 2:29; 3:7).

A justiça do Deus Trino está conectada a sua santidade. Deus é justo porque é santo! A justiça é a manifestação da sua santidade no trato com os obedientes e desobedientes. Isto é, a santidade de Deus requer a plena obediência à sua vontade. Quando se obedece ou não, sua vontade santa a justiça é desempenhada. A vontade de Deus é santa, sua lei é perfeita: Dt 4:8; Sl 19:7. Há duas questões fundamentais que precisam ser tratadas aqui. A justiça retribuitiva de Deus é aplicada necessariamente por causa do pecado. Aos eleitos de Deus esta justiça – a ira divina e sua justa condenação – é imputada em Cristo Jesus, o Messias, o Mediador da nova aliança (aliança graciosa). Deixe-me explicar melhor.

b) Todo pecado deve ser punido porque todo pecado é uma ofensa à santidade de Deus. Veja: “Pois todos me pertencem. Tanto o pai como o filho me pertencem. Aquele que pecar é que morrerá. (...) Aquele que pecar é que morrerá. O filho não levará a culpa do pai, nem o pai levará a culpa do filho. A justiça do justo lhe será creditada, e a impiedade do ímpio lhe será cobrada.” (Ez 18:4,20 NVI). E, “Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Rm 6:23 NVI). A Escritura atesta claramente que o pecado é uma ofensa a Deus: “Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e tens razão em condenar-me.” (Sl 51:4 NVI). Assim, todo pecado exige a justa reprovação e necessária condenação divinas. A justiça de Deus é modulada pela sua santidade! Deus é o juiz: “Os justos se alegrarão quando forem vingados, quando banharem seus pés no sangue dos ímpios. Então os homens comentarão: ‘De fato os justos têm a sua recompensa; com certeza há um Deus que faz justiça na terra’.” (Sl 58:10,11).

c) Aos eleitos de Deus, a ira e condenação pelo pecado são imputados em Cristo. O Filho unigênito de Deus Pai é quem recebe a ira pelos nossos pecados (Hb 7:22; Cl 2:14; Is 56:5) e nos salva desta ira: “Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda seremos salvos da ira de Deus por meio dele! Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida! Não apenas isso, mas também nos gloriamos em Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, mediante quem recebemos agora a reconciliação.” (Rm 5:9-11 NVI). (Veja também: 1Ts 1:10; Sl 103:10). Cristo é a razão pela qual os eleitos não experimentam mais a ira de Deus e nem experimentarão também o terror do inferno! (Veja: 1Tm 1:14-15; 2:5-6; Hb 12:2).

d) Porém, os ímpios serão condenados com justiça pelos seus pecados. Repare, Deus se obriga a punir os pecados dos desobedientes por causa da sua perfeita santidade.

Esta condenação é justa, é a manifestação da justiça divina! A ira condenatória de Deus é derramada sobre aqueles que se mantiveram rebeldes diante do Senhor. Veja: “Além do mais, visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não deviam. Tornaram-se cheios de toda sorte de injustiça, maldade, ganância e depravação. Estão cheios de inveja, homicídio, rivalidades, engano e malícia. São bisbilhoteiros, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos; inventam maneiras de praticar o mal; desobedecem a seus pais; são insensatos, desleais, sem amor pela família, implacáveis. Embora conheçam o justo decreto de Deus, de que as pessoas que praticam tais coisas merecem a morte, não somente continuam a praticá-las, mas também aprovam aqueles que as praticam.” (Rm 1:28-32 NVI). E: “Então os reis da terra, os príncipes, os generais, os ricos, os poderosos — todos os homens, quer escravos, quer livres, esconderam-se em cavernas e entre as rochas das montanhas. Eles gritavam às montanhas e às rochas: ‘Caiam sobre nós e escondam-nos da face daquele que está assentado no trono e da ira do Cordeiro! Pois chegou o grande dia da ira deles; e quem poderá suportar?’” (Ap 6:15-17 NVI). Temos nestes versos a revelação do Dia do Senhor, Dia Terrível, quando a condenação será aplicada com justiça sobre os ímpios. (Veja: Rm 12:19). O Filho de Deus é o santo juiz que aplicará a ira de Deus e a condenação com equidade sobre os filhos da desobediência: At 17:31; Jo 5:22-23,26-27; Mt 28:18; Ap 6:10,16-17.

Esta doutrina da justa santa de Deus é precisa ser estudada com muito cuidado e submissão à revelação do Senhor. Nossa fé deve ser moldada pela verdade das Escrituras, e não pelo o que achamos. O senso de justiça de Deus não deve ser medido pelo nosso senso de justiça. Somos criaturas imperfeitas, Ele é Deus! Campos (O Ser de Deus e os seus atributos, 1999, p. 348-350) indica algumas implicações desta doutrina bíblica:

“1. Todos os homens precisam se arrepender de seus pecados e confiar em Cristo, a fim de que escapem da manifestação da ira divina.
2. A doutrina da ira de Deus deveria motivar os cristãos a testificar de Jesus Cristo e chamar os pecadores ao arrependimento.
3. A doutrina da ira divina é um incentivo para você viver uma vida de retidão.
4. A doutrina da ira divina deveria fazer você viver desconfortavelmente com o pecado.
5. Leve a sério a doutrina da ira divina.” 

Reiteramos:
1) Devemos adorar a Deus primeiramente pelo o que Ele é! Que os nossos corações se enchem de louvor ao Senhor porque Ele é o Deus de toda justiça! Ele é o santo juiz, perfeito e maravilhoso. Assim a Escritura o revela, e assim devemos crer. Este atributo divino nos conduz à reflexão e reconhecimento da grandeza do Ser de Deus. Ele é um Deus tremendo! Temor e reverência precisam estar presentes no coração de todos que o conhecem verdadeiramente. (Veja: Ap 15:3-4; Hb 12:28-29).

2) Com relação aos eleitos, sua ira condenatória já foi colocada sob Cristo. Esta verdade escriturística deve levar a Igreja do Senhor à humildade, quebrantamento e santidade (retidão): 2Co 5:3,9; 1Ts 1:7; Hb 12:14; 1Pe 1:14-16. Devemos nos afastar cada vez mais do pecado, de tudo aquilo que ofende o Senhor Deus. Vivamos para agradecer ao Pai do Céu pela salvação maravilhosa em Jesus, nosso Salvador. Confessemos nossos pecados com confiança no perdão já obtido na cruz e na santificação operada mediante os meios de graça em nosso coração pelo Espírito Santo: 1Jo 1:7-2:2. A salvação não é mérito da Igreja, portanto, a humildade é sempre indicada: Lc 17:10; 1Co 4:7; Tg 1:17; 1Cr 29:14; Tt 3:4-7.

3) A mensagem de evangelização e alerta a todo mundo é urgente. O Dia do Senhor, quando Cristo voltar, é iminente. Veja: “‘O grande dia do Senhor está próximo; está próximo e logo vem. Ouçam! O dia do Senhor será amargo; até os guerreiros gritarão. Aquele dia será um dia de ira, dia de aflição e angústia, dia de sofrimento e ruína, dia de trevas e escuridão, dia de nuvens e negridão, dia de toques de trombeta e gritos de guerra contra as cidades fortificadas e contra as torres elevadas. Trarei aflição aos homens; andarão como se fossem cegos, porque pecaram contra o Senhor. O sangue deles será derramado como poeira, e suas entranhas como lixo. Nem a sua prata nem o seu ouro poderão livrá-los no dia da ira do Senhor. No fogo do seu zelo o mundo inteiro será consumido, pois ele dará fim repentino a todos os que vivem na terra.’”. (Sf 1:14-18 NVI). E: “Busquem o Senhor, todos vocês humildes do país, vocês que fazem o que ele ordena. Busquem a justiça, busquem a humildade; talvez vocês tenham abrigo no dia da ira do Senhor.” (Sf 2:3 NVI).

O arrependimento é um dos conteúdos centrais da mensagem evangelística: “No passado Deus não levou em conta essa ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou. E deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.” (At 17:30,31 NVI). (Veja também: At 2:38-39; 3:19-20).

Os eleitos já foram salvos em Cristo desta ira divina. A ira que seria dos eleitos já foi aplicada no Cordeiro de Deus, na cruz do Calvário. Mas, aos que se mantiverem rebeldes e desobedientes, esta ira será derramada com equidade. Deus sempre será santo, justo e bom! Que esta doutrina bíblica nos leve a uma vida de fé mais madura diante do Senhor. Que os nossos corações sejam quebrantados diante dele. Que toda a nossa gratidão ao nosso Salvador se manifeste numa vida de mais santidade. Que nossos lábios se abram com amor e senso de urgência para avisar a todos da ira vindoura e amor de Deus em Cristo Jesus.

Um hino intitulado “Perdão” traz uma mensagem lindíssima de um crente que compreendeu a gravidade do seu pecado, a ira justa de Deus, o amor de Deus em Cristo Jesus, a necessidade de arrependimento, e uma vida de esperança e gratidão ao nosso Salvador. Que a mensagem deste hino nos conduza nestes trilhos.

Perdão

Acharei mercê em Deus?
Pode ainda perdoar?
Esquecer pecados meus?
Minha vida transformar?

Eu que sempre resisti,
Sua ira suscitei;
Seus apelos não ouvi,
Transgredi a sua lei!

Arrependo-me, Senhor,
Tenho ao mal grande aversão!
Sinto n'alma intenso horror;
Posso ter o teu perdão?

Mansamente, diz Jesus:
“Quero a paz te conceder!
A salvar-te fui à cruz,
Salvo estás, se podes crer!”

Sim, eu creio e salvo estou!
Reina gozo lá no céu,
Pois a nova já chegou,
De mais um que nele creu. 

(Hino 216, Hinário Novo Cântico).

Rev. Marlon de Oliveira

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